quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Semana

Há sete dias que não a vejo.
Para mim, uma lembrança.
Pra você, o sossego.

No primeiro dia disfarcei minha ansiedade,
entrei no mar e curei a saudade.
No segundo na cachoeira fiquei, pra lavar-te da minha pele.
Mais um dia, me sequei ao Sol.
No dia seguinte tatuei você nos meus versos.
Rabisquei você em minhas palavras.
Quinto, e ainda com resquícios seus.
Contado o sexto, dancei, te esqueci completamente por horas.

No último dia acordei sentindo sua falta.
Não pude nada fazer, fraco sou eu,
o tempo passou depressa.

Você ficou pra trás da minha corrente,
nem o sopro de uma ventania poderá trazer você de volta.
É melhor que assim seja, sem você.



Rafael Cunha

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Riscado

Quero ter o corpo riscado por um lápis,
ser desenhado como queiras.
Pintado com guache,
para no próximo choro se apagar.

Desenha-me com suas mentiras,
a ambição e seu esquecimento.
Aponte o lápis.
Afie a ponta com seus outros amores.

Risque-me.
Reforce meus traços,
assim serei a cópia da sua ingratidão e superficialidade.

Pinte-me
Preencha-me com seu desgosto,
para todo amor se esgotar.

Somado a suas lágrimas de arrependimento,
e eu serei o novo desenho para outras peles de Marias.


Rafael Cunha







domingo, 28 de outubro de 2012

Ser Metade

Ontem descobri como ser metade.
Antes eu era inteiro, completo.
Dava chance a elas,
de conhecer o verdadeiro eu.

Disposto, recebi o recado de um beijo contra minha vontade.
Partiu meu coração ao meio,
quis fugir, mas decidi ficar
e usar uma das minhas metades partidas, e disfarçar.

Retirada a poeira, dancei.
Sangrando por dentro, beijei.
Debaixo da lua, sorri.
O seu corpo, bebi.

Percebi que as metades se regeneram,
criam outros corações.
Mais fortes, estes não se entregam em um vendaval.
Abrem janelas, e amam outros horizontes.

Metade é o que todos merecem de mim,
já de você não quero ter uma parte sequer.



Rafael Cunha


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Curar uma Saudade

Para esquecê-la, viaje.
Não comente sobre a falta que ela faz a você,
nem sobre os beijos sinceros.

Com sua segunda alma, se encontre.
Mergulhe no mar mexido e flutue,
deixe que as ondas os lavem.

Volte e almoce, com doces.
Faça do frio o alimento para seu coração,
esqueça os dois melhores encontros que tiveram.

Saboreie a neblina na queda de um morro,
deixe-a percorrer seus pensamentos.
Porém, não a procure.

Tenha uma overdose de visões,
assim irá perceber o quanto ela é ausente.
Chore e escorra a falta.

Na volta do consciente,
force seus sorrisos,
olhe para outros risos.

Acostume-se, ela não irá voltar. 





Rafael Cunha

domingo, 21 de outubro de 2012

Por que existe saudade?

A saudade suga a alma,
como o sal desidrata a carne
e conserva a paisagem.

Ela faz parte de um mar de felicidade,
afinal és quem firma a passagem de volta.
Sopra, como vento, o recomeço na mesma história.

A saudade é o inverso da despedida,
é a chance do retorno comum,
te convenço que sem ela não há volta de corpos como os nossos.

Sem ela não há respostas de uma carta,
não existe o desejo de uma alma,
ou o encontro num lugar qualquer de Olímpia.

A saudade é tempero de um mar cristalino,
é o encontro das ondas nos rochedos,
o desfazê-lo para areia branca criar.

És ela, quem fabrica palavras de um verso.
O motivo da existência de um corpo
e das lágrimas do recordar sem sentido.

Sinto a falta do seu nariz,
da ressaca de nossas noites
e da vitamina de nossas manhãs.

Saudade.



Rafael Cunha



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Bom Dia

Eu prefiro acordar ao gosto de vitamina.
Prefiro ainda espreguiçar-me no seu canto quente da cama,
sentir seu cheiro em todos os  travesseiros nela espalhados.
Ainda olhar-te vestir e sair.

Dividiria nosso espaço com nossos cães,
não tomaria o seu espaço em vida.
Te amaria do jeito que és, linda.

Nada disso existe,
sequer meu bom dia triste.
Me dedico a madrugada,
onde nada de você persiste.



Rafael Cunha


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Pós-Morte

Primeiro dia sem você,
é como o primeiro da pós-morte,
o silêncio,
as não cores,
as vozes ao fundo.

Sem você no primeiro dia,
é agoniante, o esperar do toque da vida sua,
aterrorizante em saber que não voltará,
é a morte da esperança em não ter a quem amar.

Sem o primeiro dia com você,
foi não realizar um sonho,
o decepcionar de um amor não correspondido,
a tristeza de nunca te beijar novamente em vida.

Hoje é meu primeiro dia pós-morte,
não sinto minhas pernas,
e não quero voltar para o ontem em vida.
Vou ficar e caminhar nas sombras de outras meninas.



Rafael Cunha


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Mil Versos

Recomeço a escrever meus mil versos, sem Maria.

Mulheres podem gostar de flores, mas não de poesia.
Acham que os versos são falsos e feitos para conquistá-las, sem harmonia.
Enganadas, os versos são verdades ditas sem voltas,
são realidades descritas sem rotas, são sentimentos escritos em nota.

Mulheres gostam de flores, mas não de poesia.
Gostam das flores e suas pétalas que caem, seus caules que murcham,
seu brilho que acaba, e sua vida que definha.
Os versos não se calam com uma borracha,
são ditos em cacos, lembrados aos trapos,
mas nunca são acabados.

Elas gostam de flores e não de poesia.
Não gostam das palavras suaves de uma matina,
gostam da secura de uma planta sem vida.

Estou cansando de fazer poesia,
quero deixar de lado meus papéis,
cada dia perco um amor para a rotina.

Estou cansado de fazer poesia.



Rafael Cunha

domingo, 14 de outubro de 2012

Estrela

Queria sair com as estrelas cadentes,
deixar os céus da ressaca,
para amar outros sóis, ó princesa.

Para cada cometa um silêncio de Mayra,
em cada gota de tristeza uma volta de Maria.

Queria amá-la sem tempo,
lentamente conhecer seus eus,
sentir seu coração pulsar por mim, estrela.

Enquanto não estacionar numa brilhante,
ainda com a minha chuva de cometas,
e meu banho de silêncio seu,
me recordarei de você, Mayra.




Rafael Cunha

sábado, 13 de outubro de 2012

Mayra

Pode ser que seja sim, minha culpa.
Seja eu, o culpado pela sua fuga.
Culpado eu, por sua ausência.

Que seja minha a responsabilidade,
meu riscar em um papel errado.
Admito que não quis nada, enquanto pra você,
não houvesse o mínimo.

Foi de feito, errado.
Quis beijá-la já no primeiro chá,
abraçá-la no segundo toque.
Tenho dito, de todo errado eu sou.

Ter um motivo para escrever uma vontade,
falar do amor, sem mesmo tê-lo existido na verdade.
Escrever uma história com um final feliz, sem dor.
Uma paixão sem motivo, história ou flor.




Rafael Cunha




quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Durma Bem

Busquei em cada sorriso, você.
Me estiquei para cada olhar, te ver.
Escrevi de cada singular, um plural.
Cada passo foi para descobri-la.

Enquanto eu caminhava você, dormia.
Um sono no qual nele, eu não existia.
Vou sentir saudade do nariz mais belo,
dos seus óculos listrados,
do seu perfil suave.

Vou deixá-la dormir seu sonho,
para quando um dia acordar,
estar descansada de outros.
E eu, com o café da manhã em seu colo, morena.



Rafael Cunha

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Boa Noite

Esperar por um desejo de boa noite,
é como esperar que as estrelas se apaguem,
é esperar suas cadências em uma parte.

Esperar pelo seu desejo de boa noite,
esfria o espírito quente de um amor,
o envolve das cores mais cinzas,
como a espera da tempestade.

Não ter o seu desejo em uma qualquer noite,
é como o não respirar de uma vida nascente,
é ter o não suspiro, de uma mãe contente.
É descobrir nunca ter existido para você, poente.

Minha estrela que põe-se nas montanhas de outroras,
não me deixe sem seus desejos,
sem a coberta dos seus afegos,
ou o toque dos seus selos.

Um beijo.





Rafael Cunha

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Último Recado

Não quero que se esqueça de como te tratei.
Como a desejei um dia após ao outro na sua companhia.
Não sou ninguém desta vastidão para lhe fazer compreender o meu amor.
Sou um estranho, que somente suspira tua presença.

Meu espetáculo chegou ao fim,
as cortinas se fecharam,
desfaço a maquiagem,
e ouço os últimos aplausos com as luzes apagadas.

Não consigo ainda perceber o tamanho de tudo,
mas quero lembrá-la que foi inesquecível,
cada palavra,
cada sorriso,
e os dois beijos apaixonados.


Rafael Cunha

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Campo

Hoje queria nunca ter escrito uma palavra de amor,
não ter dado uma flor sequer,
nunca ter me aventurado em um desconhecido.

Hoje a noite cai, a neblina baixa para um palmo enxergar, o seu.
Erro de um homem ao tentar atravessar o descampado sem uma mão segurar.



Rafael Cunha

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tal

Quando quis te conhecer, nada era normal.
Haviam sentimentos atravessados e tal.

Assim, que eu te conheci,
vi que era natural,
deixar um amor de lado, banal.

Hoje já te conheci,
e tenho que aceitar,
um amor sincero, talvez, brotar.

Pode não ser realidade,
Poderá ser somente uma vontade.
Mas deixe um infinito de amor, sonhar.



Rafael Cunha