sábado, 10 de novembro de 2012

Programa

Quando voltar me traga um terço,
torça o encharcado das minhas roupas ao seu toque.
Limpe-me com a umidade dos seus lábios.
Com seu olhar, seque-me.

Apresenta-me seu programa noturno,
reprisa-me em todas as manhãs, perto.
Abaixe o volume aos meus ouvidos.
Não mude de canal.
Quero assisti-la até meu sono chegar.

Da preguiça matutina, até o próximo jantar.
Te vê-la levantar, seus sorrisos, sorrir.
Me divertir com você.
Brincarmos com nossos filhos no faz de conta.
O suco do maracujá, tomar.

Quando voltar, avisa-me, estarei sozinho.
Assim com você nossas vontades saciar,
teu vestido te vestir.
Ao nosso amor, brindar.


Rafael Cunha

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Saberá

Devo admitir, não sabemos nada sobre o amor.
De onde vem, pra onde irá, nem mesmo onde ele está.
Confesso. Eu tentei resgatá-lo das profundezas,
pronunciei o seu nome, exaltei suas formas, em vão.

No meio do processo de ressurreição desisti,
afinal é um fardo pesado de se carregar só.
Aprendi que não podemos trazê-lo até que ele nos queira.
O amor deverá vir até nós.
Sem perguntas, aceitá-lo do jeito que és.

Não sabemos nada sobre ele.
Selvagem é o próprio.
Indomável.



Rafael Cunha


domingo, 4 de novembro de 2012

Paulo

Estive no sonho de Paulo.
Ele era quem brincava com meu pai,
eles cozinhavam as couves do jardim
depois da escola a sós.

Na cama, Paulo recebe suas lembranças aos domingos.
Por ele os finais de semana passariam a ser todos os dias,
a ansiedade do sábado e a satisfação no dia seguinte.

Hoje estive no sonho de Paulo.
Não me pergunte qual foi,
pois eu não o perguntei.

Nos últimos dias sonhei com outra vida.
Percebo que o acompanho na preparação desta viajem.
Seguro suas mãos e o acalmo para seguir em paz.
Volte sempre, amigo.




Rafael Cunha

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Noutro dia

Amanhã vou poder acordar com você,
sem dizer bom dia, vou sair no silêncio do seu sonho.
Trancarei a porta pelo lado de fora,
e nunca vais me procurar.

Irei descer os elevadores dos seus céus,
até no subterrâneo ficar.

Quero acordar com você amanhã,
gritar na descida meus nós amarrados,
convidar outros andares pra me acompanhar.
Forçar a queda para o cabo arrebentar.

Vou acordar com você pela manhã,
para ter o prazer em te deixar.
Desatar nossos abraços.
Recolher nossos cacos.

Não quero mais te ver,
sem sorrisos por me querer.



Rafael Cunha